segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

                       

              As aventuras de paizinho e filhão.

Há aqueles que se armam com o fogo das ideias. Outros se cercam com o arame farpado das palavras. E tem gente que fala por atos – na sua maioria, atos que não dizem nada.
E a única cola capaz de unir ideias, fatos e palavras, para lhes dar real significado, não se iluda um só segundo, é o amor. Todo o resto é defesa e ataque. Tudo o mais é retranca que nasce no escurinho da animalidade, que ainda trazemos urrando em alguma jaula da alminha.
Então, prepare-se para sílabas que não são letras mortas, mas palavras de honra. Nelas, o Francisco Wojciechowski resolveu abrir todas as portas do coração para falar de um jeito humano demais sobre a sagrada relação com o seu filho Josemario.

Que pai não sonha para o filho um mundo almofadado, sem quinas, tropeços, venenos e feras? É isso que o Francisco deseja lá nas suas ideias. Mas o fato é que há muitos anos ele teve de tomar a decisão de se tornar o para-choque do Josemario, a mão visível e invisível que protege o filho nos caminhos deste mundo ainda repleto de arestas e armadilhas.
Você verá que Francisco fez do seu dia-a-dia um exercício prático da arte de ser pai. Pai, a palavra da revolução de Jesus que, acima das religiões, ousou destronar o deus julgador, irado e vingativo e nos apresentar um “paizinho”, ou ab-bá, diante do qual todos eram irmãos.
Você verá, nas cores vivas das palavras verdadeiras, a rotina difícil, mas também luminosa, do papai e seu filhinho. Verá as dúvidas e medos ao lado da pura emoção. Verá  a soma das grandezas e misérias do dia a dia, transformadas em palavras profundamente sentidas.
Francisco e Josemario, vidas unidas para uma grande aventura. Vidas que ganham sentido renovado e se rendem à força maior, o amor, que um dia ainda vai encher esse planeta azul.  ( Roberto Prado - Poeta )










                        O CÉU
AZUL E NUBLADO DE UM AUTISTA SEVERO
               
           



      Finalmente tive tempo em dar uma revisada no  livro. Tirei algumas coisas repetidas, acrescentei outros assuntos, corrigi os erros de português, etc.. A essência continua igual, afinal tudo que escrevi é baseado em fatos reais, como em muitos filmes kkk Lógico que quando tiver grana para editar o livro na gráfica, certamente terei um amigo que vai me dar uma força para que tudo fique dentro dos conformes...sem tirar aquilo que escrevi de mente, alma, coração e dedos!!!! Como todos sabem não sou escritor, muito menos tenho faculdade. Tudo que fiz nestes últimos 10 anos foi praticamente me dedicar em tempo integral aos cuidados da minha Mãe com Alzheimer ( agora infelizmente em estágio final)  e do meu filho com suas enormes dificuldades que o autismo lhe causa. Quem me acompanha sabe de quantos desabafos escrevi nestes anos todos no meu facebook Francisco Wojciechowski, no meu Grupo: O Céu Azul e Nublado de Um Autista Severo e no meu blog: autistasseveros.blogspot.com  O apoio, incentivo e  força de tantos comentários recebidos, fazem com que eu nunca desista de compreender mais e mais o autismo, que atingem milhões de famílias nos 4 cantos do planeta. Que seria de mim, se não pudesse " descarregar" meus pensamentos e sentimentos??  Ao menos na Internet consigo ultrapassar , desprender-me , arrumar espaço  tanto físico como mental. Senão seria como minhas 7 galinhas, se as deixo com pouco espaço, ficam se bicando, brigando uma com a outra...mas basta abrir os portões e a paz reina no galinheiro kkk Imagine um panela de pressão se não tivesse a válvula de escape? EXPLODIRIA. Nossa mente é mais ou menos assim, quanto mais pressão, energia... mais necessidade de espaço ou válvulas de escape. Os autistas tem muito esta necessidade de espaço, e por não saberem como conseguir se libertar dos muros mentais, muitos desabafam em gritos, choros e agressividade. E se tiverem na fase sexual então , tornam-se quase escravos da masturbação. Aqui no Brasil não sei porque, é quase um tabu falar do autismo adulto, do desejo sexual deles, etc...A maioria dos programas na TV falam de  crianças autistas com suas terapias de andar de cavalinho, tocar berimbau , desenhos, pinturas, brincando com cachorrinho ou outros brinquedinhos mentais,etc...lógico que tudo isto ajuda e muito , e como tem gente que gasta até o último centavo com todas estas coisas, além das caríssimas terapias, remédios, etc. Mais autismo não é nem um conto de fadas, por isso todo cuidado, tem muitos enganadores. Doutores, terapeutas, palestrantes ...que PENSAM QUE SABE de tudo. No nosso desespero de ajudar o máximo nossos filhos somos presas fáceis. Eu mesmo já fui em várias palestras, algumas pagas, e a maioria das sensações que tive é de vazio, de ficar com mais perguntas que respostas??? Parece que esqueceram de pesquisar como tão aquelas crianças que andavam de cavalinho,etc... a 20 anos atras e hoje  adultas? Uma mãe de um desses filhos me escreveu, e parecia estar falando do meu filho. Com os mesmos problemas de gritos, choros, agressividade, troca de remédios, médicos, terapeutas... e momentos de doçura. Quem tem filho adulto com autismo de grau elevado, sabe bem o que estou afirmando. Lógico que existem bons profissionais, senão não saberíamos nem que remédio dar ou o que fazer? Autismo não é doença, é um transtorno de desenvolvimento do cérebro, como se um "fio elétrico" não funcionasse ou esta desconectado afetando a comunicação e a interação social, dentro outras inúmeras coisas.  No futuro quem sabe, um "gênio da eletricidade mental" vai descobrir um tratamento trocando este fio ou conectando-o kkk Estes tempos li uma Mãe de autista que fez uma pesquisa no grupo, dizendo que se aparecesse alguém numa esquina que curasse o autismo, se levariam seus filhos(as)? Pelas respostas as filas seriam kilometricas kkk  É, autismo não é fácil nem pra quem é e nem pra quem cuida.  Mais desistir JAMAIS. São nossa segunda sombra, nossa tornozeleira eletrônica pro resto da vida, onde teremos espaço até onde eles permitirem deixar. Somos eternos enfermeiro, guardiões,  garçom...pronto a sempre lhes servir em qualquer horário e situação. Em outras palavras, somos seu verdadeiro e talvez único amigo, que poderão contar sempre com este gigantesco amor que temos por eles! Que seria deles, sem nós? 
    Mais vamos mudar de assunto Francisco Wojciechowski 13 letras com sobrenome de chuva, afinal vc é só um Pai de Autista como milhões de outros e com os mesmos problemas, dúvidas e buscas... O que gostaria mesmo de saber quantos aqui já deu ao menos uma espiadinha no meu blog pidão? Meu ego luta pra tentar atingir 3000 visualizações, mas tá difícil. kkk Não tem só o rascunho do meu livro, tem dezenas de outros relatos de autismo.Basta ir clicando em postagens mais antigas, e até deixar comentários VERDADEIROS se quiser kkk  Eu já fui muito  magoado na vida centenas de vezes, mais uma " magoinha" ou menos uma não vai fazer muita diferença dentro dos muros do meu quintal. Correto? Corretíssimo! Magoado? Magoadíssimo! Incentivo? Incentivadíssimo! Mais preciso dos leitores pra continuar meus torturados desabafos mentais! Obrigado a todos, não posso negar que não são poucos que fazem meu mundo ser um pouco melhor!  Chico 25.02.2019 de 2ª feira  19:00h de uma noite chuvosa com meu filho dando risada no computador, tranquilo, tranquilo...obrigado Meu Deus por tão puros momentos!


        O CÉU AZUL E NUBLADO DE UM AUTISTA SEVERO

             
             
    Um dos maiores medos que temos, é quem vai cuidar dos nossos autistas quando morrermos? E isto é uma preocupação gigantesca, e maior ainda se temos dificuldades financeiras. Afinal autista dá trabalho, despesa e toma todo nosso tempo. Tempo este que impede que muitos pais não possam trabalhar e consequentemente não pode ganhar dinheiro, e sem dinheiro temos que nos sujeitar a qualquer coisa ou várias ... pressões, nos humilhar, pedir, ouvir absurdos, incomodar outras pessoas, deixar o orgulho de lado, ficar calado, engolir, tudo pelos nossos filhos. Tornamo-nos reféns dos nossos autistas e vivemos isolados, olhando o mundo por uma fresta da janela. E quanto a mente, alma, físico e coração não tem liberdade e nem espaço sofremos ou viramos neuróticos? Os dias, meses e anos só cuidando dos nossos autistas se tornam então uma batalha perpétua contra si mesmo e o mundo, e se tivermos muitos sensíveis choramos ou inventamos algum meio de fuga a dor??Como eu  tentando  escrever um livro por exemplo, kkk
Quanto temos um filho autista altamente dependente, será nossa companhia então pelo resto da vida, e  o amor então é a maior arma que temos. Por dependência falo do autista que vc tem que dar banho, enxugar, vestir, limpar suas necessidades, agarrar sua mão ao atravessar na rua, segurá-lo nos momentos de crise ou se proteger, levar uns tapas, beijos, gritos, carinho...e até as vezes abrir uma simples bala. A ansiedade e o medo do futuro nos devoram.  Cada autista tem suas próprias dificuldades, algumas parecidas, outras nem tanto, e algumas que fogem ao controle e a compreensão.  Mas vamos por onde tudo começou, contos de fadas só mesmo nos programas de TV e VERBALMENTE...mas nada é tão simples, os nossos Azuis tbm ficam nublados...espero que tenha paciência de ler até o final, antes de tirar suas conclusões...esta é a realidade do meu filho autista Josemario atualmente com 24 anos, alto, forte, doce, carinhoso...mas quando fica bravo, saia de perto ou tape os ouvidos...os vizinhos que o digam kkk ...

                   PARTE 1
     
Meu filho nasceu em 21.02. 1995, eu estava com 37 anos e minha esposa 24. Nasceu como qualquer criança, nada de estranho existia ainda. Os meses, anos iam passando normalmente, mas meu filho demorou mais que o comum para andar, largar das fraldas e soltar as palavras com facilidade. Mais nada que não achássemos dentro da normalidade e que o tempo não solucionasse. Mas dava pra ver que era muito agitado, não parava quieto,  vivia correndo atrás , gostava de mexer em tudo. Quando tinha uns 3 anos eu sai do meu emprego e inventei de abrir uma lanchonete. Mais era quase impossível mantê-lo quieto na lanchonete, só queria ir pra fora, era aquele cuidado pra não 
 ...ir pra rua movimentada.  Foi quando conseguimos vaga numa creche, mais foi impossível a adaptação. Chorava muito por mais que as professoras tentassem, não deu certo, tivemos que tirá-lo. Minha falta de experiência tbm fez a lanchonete não dar certo, nesta época mudamos de bairro. Tempos depois conseguimos colocá-lo no jardim de infância, sempre ouvindo das professoras que meu filho se isolava, que não brincava com outras crianças, etc....Eu ia sempre buscá-lo no final da tarde, era tanta alegria quando me via. Tinha dias que parava na rua e fazia coco nas calças ali mesmo. Como se tivesse se segurado pra não fazer na escola, talvez com vergonha de não saber ainda fazer no vaso do banheiro. E o tempo ia passando, nos mudamos de novo, não dava pra pagar o aluguel e viemos morar com minha Mãe na parte de baixo da casa. Minha Mãe nesta época estava numa fase terrível, pq meu Pai tinha ido embora. Tinha se apaixonado novamente kkk Meu filho continuou na mesma escola, eu pegava 3 ônibus pra levá-lo e 3 para buscá-lo, mais 3 pra voltar e 3 pra ir (minha esposa trabalhava fora, então esta responsabilidade era minha). Não era fácil vir com ele no colo,  os ônibus vinham superlotados, e nem sempre nos davam lugar. Nesta época comecei a reparar que ele tinha uma memória fantástica, no trajeto ia me dizendo o que veria pela frente: o desenho do Mickey na loja, a bandeira do Brasil, o posto de gasolina, as placas, o mercado, etc....Em casa eu dedicava meu tempo sempre brincando, ensinando escrever, etc....as dificuldades em falar corretamente ainda existiam. Muitas coisas que dizia, eu não entendia, e reparava como ele ficava magoado. Passado um tempo nos mudamos novamente, estava impossível minha esposa viver perto da sogra (mais o mundo daria voltas) kkk   Lá no mesmo terreno que fomos morar eu abri uma lanchonete, onde abria geralmente das 18h até 24 horas todos os dias, vendia mais hot-dog, x-salada, refri, cerveja, etc... dava pra ir vivendo, não pagávamos aluguel. Meu filho foi pra uma escola não muito longe, ia de ônibus escolar perto das 13h e voltava até 18 horas. Com quase 5 anos ainda não sabia usar o banheiro.  Começou  a fazer fonoaudióloga pra tentar solucionar este problema do falar mais claramente. Tbm fez tomografias, exames, etc...nada de estranho era dectado.  Ali perto tinha um parque, praticamente todos os finais de semana íamos jogar bola e dar pipoca ou pão velho pros peixes.  Nosso amor pelo JM, não deixávamos que visse que tinha coisas erradas.  Até os médicos diziam, isto passa com o tempo. Estava indo bem na fonoaudióloga, mais as dificuldades com palavras com R , L, S dois SS ainda continuavam.
Na lanchonete  chegava da escola  e ficava lá comigo, adorava meu cachorro quente.  Ficávamos bons tempo vendo os carros passar ou escrevendo. Quando chegava alguém para lanchar ficava meio bravo, as vezes até demais. Pq  tinha que parar de dar toda minha atenção pra ele. Na porta dos fundos  eu tinha feito um laguinho com peixes, aproveitando a quantidade de olho de água que vinha do morro,  tinha tilápias e lambaris. Era lindo ficar vendo os lambaris no anoitecer, davam saltos pra pegar insetos.  Como o terreno era muito grande, tinha tbm cachorro, patos, galinhas e coelhos.  Uma vez a pata TV 13 patinhas, coisa mais linda de ver nadando.  Quando os peixes ficavam no tamanho, fazíamos grandes pescarias e fritadas... Era legal pescar no próprio lugar que mora. Tv um tempo que minha esposa numa dispensa de funcionários , perdeu o emprego. Com isso podia dar bem mais atenção pro  nosso filho. Ainda não tínhamos nem ideia ou sequer imaginar que meu filho tinha autismo (nem imaginava que existia isso) nem os médicos que passou tocaram nesta palavra. Mais de 20 anos atrás, sem o mundo da internet, do celular, poucos tinham acesso a esta informação, ou as preocupações em ganhar o pão nosso de cada dia, cegava a visão do mundo lá fora?

             
             PARTE 2
      AOS 5 ANOS O GRANDE TRAUMA...
Eu estava já com a lanchonete aberta quando meu filho chegou. O motorista atrasou e quando chegou não era a mulher que sempre o trazia, era o ajudante dela. Parou na frente da lanchonete com músicas tocando bem alta, peguei  meu filho normalmente como sempre faço.  Entrou meio cabisbaixo, sem aquela alegria quando vê o Pai e antes de atravessar o quintal parou na perto do laguinho e ficou ali mudo.  Eu estava fazendo o molho do cachorro quente e a rotina da lanchonete, foi quando ele disse: Papai brinca comigo. Eu respondi espere um pouco que tou terminando as coisas e já vamos brincar. Sentamos na entrada da lanchonete e ficamos lá vendo os carros como sempre fazíamos todos os dias.  Não parava quieto na cadeira, quando passava ônibus, carro, moto ia contando e me dizendo o que era, mas algo estranho tinha, não estava tão animado. Decidiu ir lá ficar com a Mamãe ver desenhos no seu vídeo cassete.  Repetia os mesmos desenhos, as vezes voltava várias vezes pra mesma cena. Adorava ver Alice no País das Maravilhas, a cena da Alice caindo, da fechadura falando,  do Coelho, do Gato, da Rainha dizendo corta-lhes a cabeça....   ficava de olho nos números que marcavam o tempo. Adorava números, gastava pilhas de papel escrevendo números, fazendo continhas, etc....Tinha uma maquininha de calcular, onde passava horas mexendo. Mais voltando ao assunto, no dia seguinte  tinha que ir no mercado ali perto buscar algumas coisas pra lanchonete como de costume,  levei meu filho. Mais andando normalmente de repente parou e não queria mais andar. Eu dizia: Vamos filho que Papai está com pressa. De repente deu um berro bem forte e gritou alto: minha bunda tá doendo. Eu disse doendo aonde?  Pq colocaram o pinto na minha bunda e caiu no choro. Peguei-o no colo e voltei pra casa, relatei pra minha esposa, e fomos pro posto de saúde na rua da Cidadania. Tinha uma assistente, que nos enviou para o conselho tutelar, onde se trancou com meu filho pra tirar mais informações. Depois descobrimos que nesta escola tinha o filho de uma professora que sempre entrava lá pra ir lanchar e ficava perambulando pela escola. Tinha uns 15 anos e gostava de brincar com meu filho e segundo relatos do que as moças conseguiram tirar dele, é que neste dia, abusou do meu filho na biblioteca que estava vazia.  Bom dali o Conselho Tutelar encaminhou meu filho pro IML fazer exame, e o médico constatou que realmente sofreu estupro. Foi tudo muito triste, doloroso, abalou completamente nossas vidas e a dele. O Conselho Tutelar tomou conta do caso, não deixaram eu falar com o rapaz, com medo de que eu fizesse algo contra ele, etc.. O filho da professora nunca admitiu a culpa, mas foi proibido de entrar lá, enfim tantos detalhes que já não tinha mais como mudar o acontecido.  Tiramos nosso filho desta escola, e começou a frequentar outra no mesmo bairro e bem mais perto de casa. Ia levá-lo e buscá-lo, não tinha necessidade do transporte escolar. Como me doía, como era triste, chegar na escola e ver meu filho lá num cantinho, tão sozinho. Não interagia com outras crianças (quantas vezes eu chorei Meu Deus do Céu) . Teve uma época que finalmente tinha um amiguinho, que o pegava  pela mão e me trazia até o portão  da escola.  Este menino  era meio isolado, mas no caso dele talvez rejeitado por outras crianças por ser negro. Mais eu fiquei animado, pq via que os dois se davam bem, batiam papo, brincavam.
 E assim foi até mudar de escola novamente, pq o 3º e 4º do grupo tinha que ser completado em outra escola, normas educacionais.  Depois do abuso começou a consultar com uma psicóloga e um psiquiatra. A psicóloga era toda semana, mais nem ele e nem ela em momento nenhum falavam que meu filho era autista, olhavam mais sua maneira de se comportar, em consequência do ocorrido e isto retardou muito o diagnóstico.
   Na psicóloga tinha os tratamentos individuais e em grupo com outras crianças na tentativa de interagirem melhores entre elas. As vezes a psicóloga mostrava os desenhos que ele fazia, geralmente rabiscava tudo por cima, escurecia com os lápis de cor escuro, tudo era preto como uma nuvem escura. Não tinha cores coloridas e nem vida e alegria nos seus desenhos. Meu filho só ficava mesmo feliz na sua casa, no seu mundo, seus brinquedos, seus desenhos do Mickey, Pato Donald, Tom e Jerry e sua obsessão por Alice no Pais das Maravilhas.  Nesta nova escola era sempre a mesma coisa, meu filho quase não brincava, não participava, os recados na caderneta e pessoalmente com as professoras eram sempre os mesmos. As reclamações, qualquer criança que tentasse se aproximar os empurrava, ou tentava agredi-los, os comentários de que nós não sabíamos educá-los, etc...e nessas batalhas emocionais foi assim até o final do 4º ano primário. Mais de um lado desenvolveu bem a matemática, a escrita correta, fazíamos o possível e impossível. Ensinei também xadrez, baralho, dominó, ludo, trilha, etc..parques, bola, passeios e brincadeiras sem fim, esperando que a medida que crescesse tudo isto passaria, e que a vida dele e a nossa fosse normal como em qualquer lar. Na clínica finalmente pela primeira vez o psiquiatra e a psicóloga nos falou dos traços de AUTISMO, uma coisa que nem sabia que existia e muito menos eu entendia alguma coisa. Iria começar a fase dos remédios, escola especial, etc..minha visão do mundo não seria mais a mesma?

      
                             PARTE 3

   Eu e minha esposa as vezes entravamos em depressão,  passei a tomar antidepressivos, a lanchonete apenas dava o suficiente pra não faltar comida na mesa. Tinha minhas irmãs que sempre nos ajudavam. Não pagava aluguel, luz, água e isto ajudava muito. Em 2002 um amigo me conseguiu um cargo de confiança no governo e as coisas ficaram um pouco melhores financeiramente. Trabalhava no governo de dia e ao chegar ao entardecer ainda abria a lanchonete pra vender meus saborosos hot-dogs.
     

Tv um tempo que tive que começar a viajar num projeto do governo. As vezes me afastava por uma semana. Minha esposa ficava só, num terreno enorme e praticamente todo aberto dos lados e um muro baixo no alto do terreno, onde  passava turmas de estudantes, etc.  Tbm tinha uns que ficavam fumando baseado no muro por horas. As vezes atiravam pedras lá de cima, nas galinhas, nos patos, no laguinho, incomodavam muito. Até de madrugada as vezes algum engraçadinho jogava pedras, era aquele susto. Nos finais de PÁGINA 4 ...   semana era pior, pq tinha num bar na frente com música ao vivo e a rua ficava com centenas de jovens bebendo, se drogando, tinha de tudo. Mais em compensação minha venda de hot dog aumentava muito, cheguei até vender TUBÃO ( refri  de 2 litros com cachaça) isto dava um lucro grande. Mais vender cachaça tbm atraiu os malandros, uma vez entraram na lanchonete e me roubaram tudo, dinheiro, litros e litros de bebida, cigarro e além lógico do medo que ficou.  As vezes de madrugada a gente dormindo, vinha gente bater na porta pedir  se eu podia vender tubão. Final de semana era uma loucura quando estourava briga na rua e até tiro. A polícia chegava acalmava tudo, saia e tudo começava novamente. Bom eu achei melhor parar com o tubão, faturava menos mais não me incomodava mais com a maldita cachaça. Mais o bairro estava cada vez mais perigoso, quando viajava minha esposa já não se sentia mais segura, as vezes a madrinha do meu filho vinha dormir pra fazer companhia enquanto eu viajava. Mas chegou um dia que tivemos que nos mudar pq o proprietário ia vender o terreno e alugamos uma casa próxima da minha Mãe.  Minha esposa uma vez por ano quando podíamos ia ver sua família no Nordeste. Quando eu ia trabalhar a casa ficava só, e por 3 vezes arrombaram a porta dos fundo. Não levavam nada, apenas bagunçavam tudo, era uma tortura. Uma vez sai mais sedo do serviço, cheguei em casa e vi o ladrão sair correndo, descobri depois que trabalhava na pizzaria ao lado.





 Depois de 1 ano e com as dificuldades financeira pra pagar aluguel e mais a insegurança junto, voltamos pra casa da Mãe nos fundos. Meu filho já estudava em escola especial. Lembro quando fui ver esta escola, olhava aquelas crianças jovens com todos os tipos de transtornos... gritos , choros... uns que se arrastavam no chão ou tentavam bater  a cabeça na parede, etc...eu não conhecia este outro lado do mundo, pessoas ditas diferentes? Como foi difícil deixar meu filho nesta escola, mas não tinha outra alternativa. E até se adaptou, foi a última escola que  conseguiu ficar mais de dois anos.  Minha esposa levava e eu buscava, saia um pouco antes do serviço, ainda bem que meu chefe compreendia, mais não eram todos, os comentários e fofocas existiam. Se eu ainda não entendia as dificuldades do autismo tendo um, imagine os que olham de fora? Mais em 5 setembro de 2009 nasceu minha filhinha, e ficava aquela dúvida, e se ela tbm fosse diferente? Meu emprego no governo terminaria em final 2010, com mais uma filha as despesas seriam bem maiores. Mais minha esposa sempre me dizia: Foi Deus que mandou quem sabe um dia vai cuidar do irmão, vai ser uma companhia etc...Mais com o nascimento da irmã, as coisas não foram tão simples. O ciúme do meu filho se tornou gigantesco. E com o passar dos anos só aumentou, ficou agressivo demais, batia na gente, tentava bater nela,etc...Minha Mãe lá em cima gritava na janela assustada, tentando compreender o que se passava na nossa casa. Foram dias, meses, anos que eu e minha esposa quase piramos kkk Foi a época que tivemos que praticamente dividir a casa e o casal. Eu dormia no quarto dele e minha esposa ficava com minha filhinha em outro quarto. Mas as crises e o ciúme dele não tinha mais fim, destruía tudo em casa, TV, armários, vidraças, chuveiro, pratos copos, lâmpadas e seus terríveis berros,...isto  abalava muito minha filhinha. Enfim conseguimos uma creche pra ela, isto ajudou muito, ao menos passava o dia inteiro longe de tantas e tantas crises. Me lembro um dia de sábado que minha filha viu o Josemario agarrar nos cabelos da Mamãe que chegou a derrubá-la no quarto. Minha filhinha veio gritando pra mim, dizendo que o JM tinha engolido a Mamãe. São incontáveis os momentos de aflição, tortura psicológica, tristeza, choro, depressão...As doses de medicação só iam aumentando, as vezes ficava bem, as vezes piorava e as vezes eu nem lembro mais. Uma época meu filho ficou meses sem querer sair de casa, eu não sabia o que fazer. Procurei um especialista, expliquei meia hora a situação e   me disse: Traga ele aqui pra que eu possa vê-lo. ENTENDERAM?  Se eu pudesse trazê-lo estaria aqui do meu lado. Levantei e não disse nem tchau.



            
TÁ DIFÍCIL MINHA GENTE, ESCREVER E LEMBRAR DE TANTAS E TANTOS MOMENTOS E ACONTECIMENTOS. VOU ESCREVENDO, MAIS AS VEZES POSSO TAR MISTURANDO ÉPOCAS, LUGARES, ETC...PQ SÃO INCONTÁVEIS AS COISAS QUE ACONTECEM EM ANOS E ANOS NESTA BATALHA, NESSA GUERRA EMOCIONAL,  NESTE MUNDO DE BUSCAR RESPOSTAS, FÉ, FORÇAS e enxugar as  LÁGRIMAS. Quantas centenas de páginas teria que escrever sobre os relatos diários do autismo do meu filho? Com certeza ao terminar, terei deixado de escrever muitas lembranças... Mais vamos Chico escrever, antes que as memórias apaguem kkk


                        PARTE 4
Minha Mãe tem a maior adoração pelo meu filho, centenas de vezes  ia lá em cima pra brincar. Minha Mãe jogava baralho , ensinava desenhos, e contas que  tanto adorava. Um dia ela foi abraçá-lo como sempre fazia, e meu filho deu um empurrão forte. Minha Mãe não conseguia mais levantar, tinha quebrado a perna. Triste saber que teu filho quebrou a perna da Vó e os outros compreenderem isso.  Estava fadada a não andar mais. Depois de meses de muita fisioterapia, tratamentos ainda conseguiu andar de andador. Mais depois com o agravamento do alzaimer, só mesmo de carrinho de rodas. Hoje minha Mãe esta com 97 anos ou 92 ? kkk   Praticamente quase 10 anos  cuidamos dela.  Eu sei que meu filho carrega esta culpa, não adianta dizer que não pra ele. As vezes chora e diz até hoje  : Tudo culpa minha que a Vovó não pode mais andar, e entra em crises de choro.
    Final de 2010, eu perdi o emprego no governo, pois todos os cargos de confiança foram dispensados, para dar lugar aos cargos de confiança de outro governador. Aproveitei que ainda tinha crédito, e montei uma nova lanchonete próxima ao centro. Me endividei até a alma ( até hoje os cobradores não me dão paz).  Madrugava pra ir fazer o café, comprar pão, fazer o bolinho de carne que tanto meus clientes gostavam. Meu filho após o almoço minha esposa o levava pra escola, mais estava difícil pq tinha que levar a nossa filhinha junto e era muito perigoso andar nas ruas, pegar ônibus lotado, etc..  Não dava certo. Então a solução foi  fechar a lanchonete perto das 11h da manhã, e ir almoçar em casa. Daí o deixava na escola, e voltava pra lanchonete, tudo de ônibus.  Depois pelas 16horas fechava novamente a lanchonete e ia buscá-lo na escola e trazia junto pra lanchonete onde ficava comigo até uma 21h. Mais passou alguns meses não dava mais certo, meu filho gritava muito e espantava os clientes, quebrava copos, virava mesa, ou saía gritando lá pra fora, e eu corria atrás dele. Foram meses que pensei que ia enfartar. Até que desistiu de ir pra escola, uma vez agrediu a diretora dando um tapa na cara dela, e nunca PAGINA 6...   mais foi nem com guindaste. Ficava então em casa, não ia mais pra aula e nem pra lanchonete.
   As crises continuavam fortes. Eu não conseguia mais tocar a lanchonete direito. Até que tv um dia que passei muito mal, com muitas dores no estomago.  Fui pro Hospital Evangélico pra falar com o médico, e acabei ficando por lá, pois vomitava sangue, muito sangue. Pensei que seria meu fim olhando aquela pia toda vermelha. Pensei nos meus filhos, na minha esposa, em Deus! Mais depois de alguns dias ainda estava vivo e melhorando. JM e minha princesinha estavam morrendo de saudades do Papai, e a vida com seus intermináveis problemas teria que continuar. Quando estava mais forte, voltei pra lanchonete. Triste abrir as portas, a panela de vinas em cima do fogão mofada, os pães , o molho, a carne tudo estragado e eu sem um pingo de ânimo pra recuperar os poucos clientes.  Mais tinha que recomeçar novamente, tentei mais um tempo, até que apareceu um interessado em comprar.  Acabei vendendo por um preço bem baixo, já que nem o aluguel, nem contador, nada eu estava conseguindo pagar. Antes que sujasse com o avalista, acabei aceitando a baixa oferta, alívio dolorido.
    Em casa então, minha irmãs conversaram comigo e minha esposa, já que não arrumavam ngm pra ficar com a nossa Mãe  ( não aceitava estranhos só gente da família). Então ficamos como cuidadores definitivo e elas pagavam um determinado salário por mês, pra que Graças a Deus nada nos faltasse. E assim estamos vivendo até hoje, eu cuido da parte de dar remédios, café, almoço, janta ... e minha esposa da limpeza íntima e outros cuidados que uma” Vovó,  Sogra e Mãe Nenê” precisa. E com câmeras BIG BROTHER  vigiamos tudo as 24h do dia kkk Mais durante a tarde na semana minhas irmãs fazem rodízio pra vir ficar algumas horinhas com ela.
   Mais vamos voltar ao mundo autista.   Como gritava muito no quarto que ficava em baixo do quarto da Vovó, a família ajudou a fazer um quarto com banheiro e tudo ao lado da casa. Um banheiro com chuveiro bem alto, onde não pudesse arrancar e nem quebrar as lâmpadas.  Deu certo por um tempo, toda noite ele pedia antes de dormir: Mamãe me cubra. Papai me cubra. Ele não gostava de ir no banheiro urinar, usava um balde. Quando muito agitado estourava o balde no forro, espalhando urina por tudo. Isso quando não atirava em cima da gente, bom melhor mijo que cocô kkk.
Os medicamentos novos não estavam dando certo, no inicio até deu uma acalmada, mais passados os meses as crises cresceram. Batia as portas com toda força várias vezes ao dia e a noite e até de madrugada.  Pela janela do banheiro jogava tudo, sabonete, papel, caneta , livros, sapatos, etc.. Os possantes gritos e choros eram constantes. Minha filhinha reclamava estar indo com dores de cabeça pra aula, as crises do JM estavam lhe afetando. Ainda mais que tinha noite que ngm dormia. Tv uma vez que tava tão feio a coisa, que o vizinho chamou até a polícia de tanto barulho que meu filho estava fazendo. Duas horas da manhã a polícia batendo a campainha, pra saber o que estava acontecendo. Convidei os guardas a entrar, olharam tudo, falei que meu filho era autista, etc..e foram embora sem nenhum problema. O vizinho ao lado que era um morador novo, ainda não sabia dos problemas do meu filho. Pensava que alguém estava sendo espancado ou pedindo ajuda.  Bom passado um tempo e nada das crises diárias passar, eu e meu filho passamos então a morar na casinha aos fundos que meu Pai tinha feito a muito tempo atrás pensando um dia retornar, o que nunca aconteceu . Demos uma geral,     pintamos, arrumamos as telhas , tomadas, etc...ao menos o barulho não incomodaria mais tanto minha filhinha. Mais quem vive com autista sabe que os problemas nunca tem fim. Foi a vizinha dos fundos  então que começou a reclamar do barulho . Quem está no meu face book, lembra bem da campanha que fiz para arrecadar um dinheiro pra tentar fazer um quarto que isolasse o barulho.  Me lembro que arrecadei uns 5 mil  reais na época. Comprei algumas coisas pra começar a obra, mais meu filho não deixava o pedreiro trabalhar. Um dia jogou todas as ferramentas do outro lado do muro, chegou a pegar um tijolo pra jogar no pedreiro e  acabou desistindo e eu tbm.  Com o dinheiro restante, arrumamos algumas coisas, compramos uma tv, uma máquina de lavar roupa que a nossa já estava caindo aos pedaços, geladeira, o computador que ele tinha quebrado, novos remédios, dentista, enfim o dinheiro sumiu.
   Como já escrevi, meu filho morre de ciúmes da irmã, e mais ainda quando a vê ir pra aula. Pede todo início escolar pra que  arrume escola, berra, exige, etc...quando consigo não dura mais que alguns meses ou semanas.  Um tempo atrás tinha conseguido uma escola especial lá em Sta Felicidade. A Kombi do governo vinha buscar e trazer. Estava indo tão bem, até que do nada travou novamente. Um dia  veio cheio de coco na roupa, não sei se falaram alguma coisa ? Sei que desde desse dia, desistiu de vez. Mas tbm faltava muito  pq o remédio pra dormir era muito forte, e  tinha que tirá-lo sedo da cama, era uma batalha.   A última escola que consegui foi agora neste ano, pelo período da tarde só nas terças e quintas algumas horinhas e eu ficava ainda lá no pátio esperando,  não adiantava voltar pra casa e já ter que retornar , só gastaria em ônibus. Parecia que desta vez ia dar certo, mais  travou. Meu filho é assim, acho que não vou conseguir mudá-lo nunca. Faz o que quer, a hora que quer e quando quer. Ao menos  tento, agora até o próximo ano  não fala mais em ir pra escola, é o jeito dele. Com certeza lá por fevereiro de 2019 vai voltar ao assunto escolar, e eu terei que ir EM BUSCA DE NOVA ESCOLA kkk


                    PARTE 5

    A DIFÍCIL FASE SEXUAL...
Sempre compro palavras cruzadas. Com a facilidade dele decorar muitas coisas, é impressionante como preenche rápido. Quando não sabe a resposta daí então procura no final da revista. Na matemática ficava impressionado com a facilidade mental de fazer contas de cabeça. Não era só a tabuada de 1 a 10 mais de 1 a 1000. Se eu fizesse uma pergunta quanto é 834 x 549, por exemplo, me respondia em questão de segundos, não precisava calcular no papel. Mais com tanta medicação parece ter abalado esta facilidade em cálculos. Quando tivemos o primeiro computador, ainda sem internet, colocava o CD do Show do Milhão do Silvio Santos. Passava horas neste joguinho respondendo perguntas. E de tanto jogar praticamente decorou, e acabava sempre chegando no prêmio de 1 milhão. Eu quando jogava não passava de 100 mil, pra chegar a 1 milhão só mesmo pedindo ajuda pra ele. Kkk E assim com outros jogos que eu comprava, geralmente com matemática e números. Dos 15 anos em diante aprendeu a usar internet, baixar jogos, desenhos, musicas, filmes, etc. Ficava louco com aquelas internet controlada por tempo onde demorava muito pra pegar qualquer coisa. Quando com raiva jogava o computador, virava a mesa, não foi pouco o que já gastei com consertos. O sofrimento demora fazer a gente pensar. Foi quando tive a ideia de colocar o computador amarrado e protegido por tela. Com isso acabou em 90% as   chances de destruir um computador. A Internet que finalmente deu certo foi por fibra ótica, hoje a família toda usa e nunca deu problema.
   Aos 20 anos mais ou menos, meu filho então entrou na fase da masturbação e dos filmes pornô o computador  kkk E forçava tanto que quando  ia dar banho , as vezes não deixava lavar o pinto, de tão dolorido.  Falei com o médico se tinha algum “broxante”, e passou um remédio, mas não resolveu a situação. As vezes a medicação até atrapalha,  quando não consegue o gozo, sua fúria aumenta. Sai gritando pelo quintal dizendo que quer cortar o pinto, que quer fazer sexo, etc..Me lembro de uma vez no Condor,  passando as compras normalmente no Caixa, olhei  e estava com as calças abaixadas e se masturbando .  Fora outras situações desagradáveis na rua. Tv um tempo que minha esposa tbm dava banho nele, mas tv que parar, tem momentos que  vê a própria Mãe como mulher, não foram poucas vezes que  foi na cozinha ou na porta do quarto da Mamãe sem roupa  dizendo que quer fazer sexo. Foi duro tirar isto da cabeça dele, só conversar não resolve, tinha que brigar firme e mandar ir pro quarto. Tinha vezes que pegava açúcar, farinha, leite condensado, etc... e se lambuzava tudo na cama. Coisas que devia ver naqueles filmes pornô. Me lembro uma vez quando  disse pra mim: Papai eu quero camisinha. Camisinha pra que meu filho? Pra fazer sexo seguro Kkk Daí comecei a pegar camisinha no posto de saúde, não podia  faltar de jeito nenhum.  Diz  que pra namorar a mão, tem que ter camisinha. Kkk Uma vez no Condor inventou que precisava comprar uma chupeta.   Falei filho vc não e mais criança pra usar chupeta, mas não adiantou acabei comprando. Em casa quando fui ver o que estava fazendo, vi esfregando a chupeta no pinto. A chupeta tinha passado a ser sua nova amante, namorada... Kkk
    Nos relatos da internet, vi casos de Pais que até pagam uma garota de programa pros filhos (as)autistas.  Imagine se faço isto com meu filho, teria que assaltar um banco kkk Mais no caso das mulheres autistas, tbm vi relatos incríveis, melhor nem relatar. Por isso essa fase sexual é tão difícil pros autistas, e muitos entram numa fase bem severa. Muitos pais de autistas ainda pequenos dizem: Meu filho nunca vai fazer isso, nunca vai me agredir, ficar violento...é tão doce, tão bonzinho etc.. Eu pensava assim, jamais em tempo algum  pensei que meu próprio filho viria me bater. Mais adultos, muitos se transformam, e temos que nos preparar pra isso. Segurar um autista pequeno é bem mais fácil que um autista adulto que quando tão nervoso a força parece triplicar ? Pq que eu não posso trabalhar fora, deixá-lo só com a Mamãe? Justamente por todas estas coisas, minha esposa não consegue mais segurá-lo.   Imagine minha filhinha vendo o próprio irmão agarrando os cabelos da Mamãe e outras coisas? Por mim ainda tem um respeito, medo...mais não são poucas as vezes que vem pra cima me bater. Eu estou ficando velho, estes tempos minha artrose estava tão forte nos braços, que eu não conseguia nem levantar os braços pra lavar os cabelos dele . Aqui nos fundos, tive que dividir a casa com uma grade no meio, pra impedir que  venha em cima de mim ou jogar o que tiver. A porta pro quintal ta sempre aberta, a maioria das vezes sai pra fora e vai socar a parede, o muro, etc... Ou vai pro quarto e joga tudo no chão, seus livros, suas canetas, seus brinquedos, etc...Depois quando o surto some, e fica bonzinho, arruma tudo novamente do jeitinho que estava. Mais tudo  fui aprendendo com o tempo e as situações:  pregar a cama na parede, a cadeira que senta no computador amarrada, Tv e computador atrás das grades, controles então tive que parar de deixar do lado dele, pq espatifava no     chão. Tudo   tem que manter fora do seu alcance. Deixar pouco papel higiênico no banheiro pq desenrola tudo, pasta dental se deixar esvazia tudo na pia, detergente, sabonete quebra no meio e coloca no lixo, canetas enrolo com fita isolante pq senão quebra no meio, lâmpadas atrás das grades, janelas protegidas pra não estourar os vidros, não deixar tijolos, pedras, ferramentas pelo quintal, enfim eliminar tudo que lhe pode machucar ou machucar a gente. E por mais cuidado que se tenha, não dá pra ficar as 24h. do dia tomando conta, sempre surge algum descuido  Meu filho quando não está no computador ou vendo tv tranquilo ou namorando a mão, fica pra lá e pra cá o tempo todo, as vezes fica catando as folhas das árvores que caem. Quando está nervoso xinga a árvore, diz que vai matar a árvore pra não cair mais folha kkk Tem acesso a casa toda, menos no quarto da irmãzinha. Vai na cozinha, na sala, pelo quintal, as vezes sobe comigo na casa da Vovó, etc. A Tv que fica na sala tem que deixar amarrado, a geladeira fica numa pecinha que tem  com porta fechada, os armários que praticamente tão com as portas tudo destruídas ou soltas com arames para segurar, etc...Tudo isso te deixa neurótico. Imagine, vc vai fazer um café, tem que desenrolar o arame pra pegar o coador, o café, o açúcar, etc.. Pegar o leite destrancar a porta, o cadeado, etc. Muitas vezes está sempre do lado, minha esposa quando faz almoço fica em volta, olhando tudo. Lógico que a maioria das vezes está bonzinho, puro, doce...mais pode acontecer de surtar de um momento pra outro.  Não foram poucas as vezes que jogou o prato de comida no chão, seu iogurte, seu café...ainda que seja tudo servido com objetos de plástico, tem coisas que tá em cima da mesa , do fogão ou da pia que pode espatifar no chão. Vc não pode esquecer um pirex, uma panela, uma garrafa térmica, tudo tem que evitar o máximo pra não destruir.  Tv ou computador, quando estraga é terrível. Vc pira, não tem paz. Ele fica o dia inteiro agitado, não tem remédio que faça milagre. Nosso dinheiro é contado, qualquer despesa a mais não é fácil. Tenho o nome no SPC, tudo é difícil. Vai arrumar um computador, uma tv quebrada, uma máquina, tudo é caro e mais ainda quando o técnico te engana. Então nosso cuidado com as coisas é redobrado, pq é sempre melhor ter custe o que custar do que não ter? Se tendo tudo as coisinhas dele já é difícil, imagine não tendo? Pq tantas famílias vivem em desespero? Imagine vc sair, e não ter um dinheirinho extra pra emergências? Um taxi num momento de surto na rua pra trazê-lo pra casa, ou sentar numa lanchonete pra fazer um lanche ou tomar um sorvete na rua?  Fora de casa os cuidados tem que ser redobrados, pq invade as ruas sem noção nenhuma do perigo.  No mercado tem muitas coisas que põe no carrinho, que eu tiro  sem  ele ver. E as vezes que surta dentro do mercado? Que joga tudo das prateleiras. Que sou obrigado a agarrá-lo deixar tudo e ir embora sem nada. Daí tem gente que diz: Vc acostumou mal, não educou corretamente, faz tudo que ele quer,etc...no CAPS aqui perto de casa quando meu filho frequentava, ficavam ligando. Vc não traz mas teu filho? Meu Deus quantas vezes viram meu filho chegar e sair gritando pelas ruas só em chegar no portão? Quando não quer ir num lugar, não existe maneira de conseguir, não tem como arrastá-lo pelas ruas. Pareciam não entender, como se fosse uma falta de capricho dos pais. Pensam que pra compreender um autista é sentar na mesa e ficar discutindo teorias de Freud e Jung ou um moderno especialista?  A realidade verbal e dos livros é uma coisa, e o viver as 24h do dia com todas as pressões e dificuldades que um autista tem existe  uma distância enorme. Lógico que precisamos dos DOUTORES, mas tem cada um que só pensa no $$$$$$$$$$$ kkk
   Quando escrevi lá atrás da violência sofrida por meu filho, não posso deixar de escrever que o rapaz que trouxe meu filho naquele dia com o som no último volume na Kombi , foi o que tinha abusado da inocência dele. Foi pego um dia fazendo a mesma coisa com outra criança dentro da Kombi escolar.  Foi preso, estuprado na cadeia, depois solto. Viciado em drogas, dizem que uma época se endividou com traficantes  e acabou sendo desovado. Aqui se faz, aqui se paga. Mais o trauma e os bloqueios mentais no meu filho ficaram, quem sabe foram os motivos pra desencadear um autismo tão severo?





                               PARTE 6
     Dizem que os Pais de autistas ricos sofrem menos que os Pais de autistas pobres? Claro que não, sofrimento é sofrimento. Mais o dinheiro ajuda sim a facilitar muitas coisas. Com dinheiro pode pagar um bom cuidador, enfermeiro(a) não precisa ficar o tempo todo preso em casa, nem ter aquele medo se destruir alguma coisa, pq pode  comprar novo ou arrumar. Pode  pegar o carro e levá-lo a gastar energia num parque sem se preocupar em andar nas ruas no meio dos carros ou andar em ônibus lotados, com o perigo dele empurrar ou dar um tapa em alguém ou sair gritando do ônibus. Pode comprar os remédios que necessita, sem precisar ficar como a preocupado se vai ter ou não o remédio este mês? Pode pagar o tratamento dentário numa boa clínica com anestesia geral. Pode morar num lugar que não incomoda os vizinhos ou com um moderno isolamento acústico. Pode se precisar internamento deixar numa clínica particular. Pode pagar um bom plano de saúde e de aposentadoria pra que seu autista não fique abandonado, desamparado, sem teto ou jogado num manicômio, etc. Pode até arrumar uma companheira ou companheiro pra cuidar dele até o fim da vida É esta diferença que existe entre autistas pobres e autistas ricos. Mais como disse, dor é dor. E o amor pelos nossos autistas deve ficar acima de qualquer situação financeira. As desigualdades, miséria e sofrimento causados pela ambição e corrupção do PODER político, religioso e nacionalista parecem que nunca vão ter fim neste mundo, quem sabe num outro?
   E assim passa os dias, meses, anos....
Acorda, toma seus remédios da manhã com café e leite.  Perto do almoço, vai lá na cozinha esperar o almoço. As vezes levanta já brigando com o mundo ou dando beijo! No almoço pode faltar de tudo, menos arroz, feijão e repolho cozido e o iogurte de sobremesa.  Depois fica catando coisas pela casa e o quintal pra colocar no lixo. Um palito de fósforo queimado em cima do fogão, um papelzinho, um grão de arroz ou feijão que esteja no chão, tudo coloca no lixo. Ele adora ver o lixeiro sempre cheio. Lá fora faz a festa com tantas folhas que caem das árvores. Pega a pazinha a vassoura ou a mão mesmo e vai deixando a calçada tudo limpinha. Tem vezes que grita com a árvore: Chega de cair folha, chega de cair folha, quero que árvore morra... Quando é 1h da tarde o transporte escolar chega pra levar a irmã pra aula: Não quero que minha irmã vá pra aula. Quero que a escola morra, morra, morra...vou destruir o carro, chega a ser engraçado. Quando volta pro quarto, tem o costume de ler a Tribuna do Paraná que compro todas as manhãs pq sei que  vai pedir. Quando implica com o jornal, deixa em picadinhos. Eu como acordo muito sedo  todos os dias, costumo tirar um cochilo rápido de tarde, enquanto ele fica no computador ou vendo desenhos na tv, ou rabiscando o caderno ou fazendo palavras cruzadas ou  andando pra lá e pra cá. Eu digo: Filho não esqueça de acordar o Papai 15h.  Quando é umas 14:30h ou antes mesmo já me chama: Acorda Papai, já é quase 15h. Daí antes de levantar  fico brincando que estou sonhando em voz alta falando besteiras: - Não deixe o peixe fugir, não deixe a Magali comer melancia. Não deixe o Josemario gritar pra não doer meus ouvidos, etc. Invento um monte de coisas todos os dias, daí finjo que caio da cama e acordo: pergunto onde estou? Na cama. Quem é você? Teu filho.  Que lugar é este? Teu quarto. Quem sou eu ? Papai Francisco. O que  Papai estava fazendo? Sonhando. E o que que sonhei? Daí conta tudo que eu disse nos meus falsos sonhos kkk Daí vamos lá na cozinha colocar água pro café. Sempre tenho que colocar a mesma quantidade de colheres de açúcar no bule e de café no coador. Enquanto esperamos a água ferver, eu sento na cadeira, fecho os olhos e finjo que estou ainda dormindo. Vou dobrando o corpo quase até o chão. Ele dá risada das minhas palhaçadas.  Quando a água ferve, fica vendo  fazer o café enquanto como o pão. Daí quando vou mexer o café pra misturar o açúcar, faço bem rápido e ele rodeia a cabeça pra acompanhar e dá-lhe risada. Pego os dois copos azuis de plástico  e encho um com metade  café, metade leite e divido nos dois copos.  Todos os dias não pode mudar a rotina.  Depois eu coloco  café pra  levar  pra Mamãe no quarto que tbm tá descansando um pouco. Bate na porta forte e diz: CAFÉ MAMÃE.  Se eu errar o copo e colocar num que  acha que é da irmã,  não leva. Depois do café fica sempre na dúvida se vai tomar banho ou não? Não posso perguntar, ele mesmo vai pedir pra tomar banho.  Abro o chuveiro, vejo se a temperatura da água está boa e vou buscar o sabonete, toalha  e as roupas limpas. Tem dias que deixa lavar os cabelos  e as vezes não, o mesmo com o pinto.  Quando está muito frio o tempo, invoca com o chuveiro, invoca pra tirar a roupa, é uma batalha  INVERNAL kkk Quando chega perto das 17h, fica rodeando a cozinha vendo a Mamãe preparar a janta. Sempre próximo deste horário tem que jantar, se não gostar da comida, joga o prato no chão kkk Daí sai correndo lá pro quarto ou no muro e se transforma. Mais mesmo quando acha a comida boa, ao entardecer  vem a rotina dos surtos. Berra, xinga, chora, descarrega a ira, cansa...vai pro computador, assiste Chaves, invoca com a Florinda pq bate no seu Madruga ou pq sente ciúmes do professor Girafales, toma a medicação da noite, etc...Se tiver muito quieto  no computador é pq tá vendo pornografia,  fica nu e vai pra cama namorar a mão ou a chupeta .Não pode falar nada ,nem espiar...senão grita ou tenta me bater. Se após este tempo tiver mais calmo, é sinal que atingiu o prazer. Agora se não conseguir, vai gritar novamente, berrar, dizer que quer fazer sexo, que quer cortar o pinto, começa a jogar tudo que tem pela frente, joga até as roupas e cobertas pra fora, etc...etc...etc...Até23 horas  vai me pedir ainda  sucrilhos,   club social, nescau, suco , etc. Eu fico vendo filmes até meia-noite, quando deito, digo boa noite filhão. Boa noite Nininho! Antes eu vejo se tem papel higiênico no banheiro, se o copo de água tá cheio, se tem caneta e papel pra escrever, em qual canal é pra deixar ligado etc... Como as vezes demora muito pra dormir ou nem dorme( tem fases que aguenta 48h ou mais sem fechar os olhos), tenho que pensar em tudo que  possa querer. Como acordo muito durante a noite por causa do meu problema de próstata, dou uma espiadinha pra ver se tá dormindo, se tiver apago a tv e a luz. E assim termino esta parte DA ROTINA dos dias, meses e anos kkk...



                                PARTE 7
A 1º paixão  meu filho  nunca esquece: XAXÁ !
     Quando ainda trabalhava no FERA, tinha um programa na Tv onde minha chefe aparecia. Meu filho por sinal é apaixonado por várias atrizes e jornalistas da TV,  na última vez que perguntei diz que tinha quase 50 namoradas. A Xaxá  era a única que ele via na Tv e pessoalmente quando eu o levava  pra ir lá no trabalho do Papai. E como  tratava-o tão bem e até o  levava pra  lanchar ,se apaixonou. Nos aniversários dele, ela aparecia sempre pra trazer uma lembrancinha. No seu amor inocente   era sua namorada. Vivia me cobrando: Papai compra um cama de casal. Eu dizia pra que filho vc quer uma cama de casal? Pra namorar a Xaxa. E o que é namorar? Respondia  todo tímido : Beijar e abraçar! Quando ela aparecia no seu aniversário, era fantástico ver sua alegria. Pulava que só faltava bater a cabeça no teto. A voz  não saía, de tão emocionado.  Quando terminou o FERA e nenhum de nós mais trabalhava no governo, demorou muitos anos pra vê-la novamente. Tv um aniversário que eu pedi por favor pra  vir ao menos dar uma passada rápida. Mais ele estava tão magoado de ficar tantos anos sem notícias, que abriu a choradeira. Foi preciso uns minutos, pra que de dentro do seu puro amor  a perdoasse kkk Enfim ficou muito feliz e com certeza naquele aniversário foi o melhor presente que podia ter recebido.  As vezes quando tá brabo, e eu pergunto pq, responde chorando: Tudo culpa da Xaxá que não aparece mais aqui. Mais motivos pra ficar brabo meu filho tem milhares:  Culpa do time que perdeu, culpa das folhas que caem,  da professora,  da novela que acabou, do cachorro que late,  das Tias,  da Vovó que não anda,  da chuva que não para,  do frio,  do banho, das caixas de leite que derrubou no mercado,   da irmã que vai pra aula,  do papai,  da mamãe, da buzina do carro, da sirene da ambulância, do avião, dos pássaros,  do vizinho, do prato que jogou, da caneta que quebrou, ,do gato que mia, etc...Acho que daria mais de 10 folhas detalhando todos os motivos quando entra em surto. Eu digo: filho não grite que os ouvidos do papai e a barriga doem. Que mais que o Papai em? Artrose nos braços. Que mais? Úlcera. Que mais? Próstata. Que mais? Coceira nas costas. Que mais? Alergia. Que mais? Varizes. Que mais? Diabetes. Que mais? Entupimento da veia da perna kkk Que mais? Só. Daí eu pergunto e que é  que o Josemario tem? Autismo. E o que é Autismo? Pensa um pouco, e diz: Não sei Papai, acho que é ser diferente? E o que é ser diferente? Não sei Papai.



                              PARTE 8
     O QUE FAZ UM AUTISTA FICAR AGRESSIVO?
Difícil responder. Meu filho a maior parte do dia é tão puro, doce, querido,  carinhoso!!!! ...As vezes me olha com tanto amor que parece demolir minhas barreiras egocêntricas. Não são poucos os dias que verto lágrimas, adoro quando vejo que ta  feliz, dando risada, em paz...chega a ser engraçado certas maneiras dele expressar tanta alegria. Se sacode  batendo as mãos , os pés, a risada tão profunda e natural. As vezes começa a brincar com a gente dizendo : NÃO TENHO MAIS  PAI , NÃO TENHO MAIS MÃE ,ACABOU O REMÉDIO...e cai na gargalhada. Quando eu pergunto e agora filho o que eu faço: CAGA NA PANELA E JOGA FORA. São momentos tão azuis que passo ao seu lado. A rotina  de deixar sempre tudo igual: a caneta  no lugar, seu caderno, seus livros, matemática tem que tar sempre em cima do de português, daí vem geografia , história, ciências...ao lado suas palavras cruzadas, depois as revistas da Mônica e Cebolinha. Na prateleira de baixo deixa suas sandálias e tênis. Depois a fileira de jogos : um jogo de botão, dominó, xadrez, dama, ludo, bingo...no canto uma mala. Esta mala é engraçada, quando  fica nervoso as vezes grita: EU VOU EMBORA DE CASA,NÃO AGUENTO MAIS ESTA CASA, já disse 1000 vezes.  Daí pega a mala e joga umas revistas  , uma escova de dentes... Daí é bom segurá-lo pq senão vai correndo lá pra rua com a malinha kkk Mais quase todos os dias joga tudo no chão com raiva gritando bem alto: TOMA QUE O FILHO É TEU, TOMA QUE O FILHO É TEU... depois quando acalma deixa tudo como estava. Se descasca uma mimosa, deixa as sementes e as cascas tudo em fileirinha. Quando vai catar folhas das árvores, pega a pazinha e a vassoura e no jeitinho dele vai levando pro lixeiro. Faz dezenas de vezes o mesmo trajeto, não gosta de trazer o lixeiro perto, é como uma terapia ter que levar as folhas no cantinho que fica o lixeiro, não pode mudar. As vezes quando a quantidade de folhas que caem é muito grande, briga muito com a árvore: QUERO QUE ESTÁ ÁRVORE MORRA, MORRA , MORRA....e bate com a vassoura nela, e desiste de juntar as folhas. Mais fica cismado de deixar a tarefa inacabada, passa um tempo, volta lá e quando vejo não tem mais nem uma folha no chão. No dia seguinte tudo vai se repetir.  Quando vai na cozinha já vai direto ver se tem palitos queimados no fogão, cascas na pia, alguma sujeira na mesa, chão, etc.  Minha esposa já costuma deixar de propósito muitas coisas, casquinhas,  cx de leite vazia...terapia mental. Agora tem que tomar cuidado com os lixeiros, ou seja não esvaziar sem ver o que tem dentro, pois pode achar muitas coisas que não são lixos, até documentos e chaves kkk
    Mais nem sempre o Céu é só azul  tem muitos momentos de Céu nublado. Tv um dia que Deus fechou o sinal GRAÇAS A DEUS! Andando na rua normalmente e do nada de repente levo aquele tapão na cara, largo sua mão e  sai com tudo correndo e atravessando uma das ruas que os motoristas vem a toda lá de cima. Mas como milagre, o sinal não estava aberto, DEUS!  Mais que a gente fica com aquele medo  quando sai, isto não tem dúvida. Ainda mais eu com as pernas nesta idade tentar acompanhar seu pique.  Me sinto triste vendo meu filho só dentro de casa. Os riscos lá fora  são grandes, no mercado já chegou a derrubar prateleiras, no ônibus empurrar pessoas que tejam na frente, um perigo se for uma pessoa idosa. Tirar a roupa e ficar nu,etc.... São tantos as situações de pânico. Entrar numa banca e não ter a revista ou o jornal que quer, na lanchonete se cismar com alguma coisa,etc.  Nos últimos anos nem em aniversários ou casamentos de alguém da família tenho o levado.  Isto nos isola do mundo, receber visitas em casa não pode, até o pedreiro que preciso as vezes não deixa. Levar na casa dos outros não dá, pescar, futebol, tudo fui deixando. Praia na última vez que fomos, eu voltei 10 x mais esgotado. Sair do mundinho dele é uma tortura. Imagine na praia, e eu levava de tudo: tv,DVD,radio, revistas, palavras cruzadas e até grade pra colocar na frente dos eletrônicos, uma camionete lotada. Nada resolve, passa um tempo e ngm mais fica em paz, nem nós nem os vizinhos. Kkk Na praia então quando a água está muito fria ou algo o incomoda, pronto tem que ficar correndo atrás dele. E daí todo dinheiro de transporte, compras, tudo que se leva pra ficar ao menos 20 dias pra fugir da cansativa rotina de Curitiba, vc se obriga a voltar. Desolado, cansado, sem férias... pra enfrentar a vida com seus intermináveis problemas.
   Em casa faz tempo que nossa família não sabe o que é sentar na mesa todos juntos. Ir num restaurante, cinema, parque...minha irmãzinha come com a Mamãe no quarto, eu como na mesa sem dar as costas ( trauma de tantos tapas que levei kkk) muitas vezes me obrigo a comer de pé no canto da cozinha...os anos passam e parecem que se acostumamos com esta vida isolada. Pq ele fica com tanto ódio? Talvez não aceite ser diferente? Quer chamar atenção? Muita energia acumulada? Desejo sexual? Barulho que não gosta? Remédios? Ciúme demais? Não posso nem falar as vezes com a minha esposa, com minha filhinha então, se ver que estou dando atenção pra ela EXPLODE. Não tem como evitar a úlcera, as vezes a herpes zoster, dor de cabeça, depressão, nervosismo, tristeza, sensação de fracasso, todos somos atingidos, emocionalmente, fisicamente e financeiramente. Ainda bem que minha filhinha geralmente está na aula, e em casa fica com seu fone de ouvido kkk Coitadinha até pra atravessar a casa pra ir no banheiro, tem que olhar se o irmão não está no caminho. Raramente pode chamar uma amiguinha aqui brincar. Uma vez me disse, nunca esqueço tinha 6 anos: Papai pq o meu irmão é assim? Eu não posso nem andar pela casa que quer me bater. Não posso usar a bicicleta, não posso pular corda, etc.. As vezes até dor de cabeça reclamava, os gritos são estrondosos. Não teve como evitar as lágrimas. Ainda bem que hoje com quase 9 anos já entende melhor o irmão, sabe se proteger kkk



                 PARTE 9 FINAL
 Culpar quem, Deus? Meu filho por ser autista? Não,  ninguém  tem culpa de nada. Enquanto estiver do nosso lado terá sempre toda proteção da Mamãe e do Papai até o fim das nossas vidas. E torcer sempre pra que um dia algum remédio ou uma LUZ acabe ao menos estes tantos gritos, choros e
agressividade.
 Escrever mais do autismo do meu filho, que não é muito diferente de milhares de outros, ficaria muito repetitivo. Cura não existe, afinal não é uma doença, é sim um transtorno da conectividade. As conexões dos neurônios são insuficientes, é como se algum “fio” cerebral não estivesse ligado, causando enorme dificuldades em processar informações. Dizem que o autismo vem da genética, outros que são danos causados ao sistema nervoso durante a gravides, traumas, etc...Bom, aqui vc pode consultar livros  de vários especialistas ou na própria internet nas centenas de grupos de autismo. Existem tbm  inúmeras terapias que podem auxiliar como ABA ( Analise aplicada do comportamento) TEACCH ( Tratamento e educação de autistas e de síndromes similares) PECS ( Sistema de Comunicação), etc... Mas tudo isso vc tem que conversar com o médico do seu filho, pra ver qual o melhor caminho, pra que os nossos autistas tenham ao menos mais independência. Mais mesmo com ajuda dos médicos lembre que quem mais pode ajudar seus filhos é o amor dos pais.  Ter paciência, dedicação e MUITA vontade de ajuda-los pq o caminho é longo, cansativo e prazeroso quando vemos seu progresso, nem que seja nos mínimos detalhes, como abrir uma bala de goma. Falta de compreensão, palpites e gente se aproveitando da situação vai ter aos montes. Profissionais sugando se puderem até o último centavo do teu desespero e falta de informações. Terapias e tratamentos de todos os tipos e até contos de fadas? Andar de cavalinho, dar um cachorrinho, música, natação, desenhar, pintar, dar remédio de maconha, etc...tudo pode a ajudar a destruir o isolamento mental dependendo do grau de autismo, afinal temos que mantê-los ativos,  ocupados e adaptados para viverem da melhor forma possível dentro dos padrões da sociedade. Mas como disse um olho no padre e outro na missa?? Tem profissionais que estudam alguns livros sobre autismo, fazem um estágio, etc.., e já pensam que entendem de tudo. Mais entre o autismo dos livros e das palavras e da realidade nossa de passar 24h convivendo, VENDO O FATO com nossos autistas pode ajudar muito mais. E até ajudar os profissionais, afinal pra eles o que os olhos não veem o coração não sente. Já notaram que quase não falam dos autistas adultos ou da fase sexual? Até parece um tabu. Mais não é, afinal não convém mostrar muitos daqueles autistas pequenos de 20 anos atrás, andando de cavalinho ou tocando harpas, etc...  e que muitos deles agora adultos vivem quase igual como vive meu filho: Com dias  de Céu Azul e dias de Céu Nublado?? Fazer “previsões” com autista, é sempre uma incógnita? Ajude-os, ame-os, faça o melhor que puderem, NUNCA DESISTA, pois estarão sempre ao nosso lado com suas necessidades,  lágrimas, sorrisos , flores...e DEUS!